segunda-feira, 11 de abril de 2016

FÉ E VIDA NA MÍSTICA E ESPIRITUALIDADE DA PJMP






Por Padre Antônio Gomes*


Pensar mística e espiritualidade da PJMP é nos colocarmos numa linha do tempo pensarmos no movimento bíblico de libertação do povo de Deus no Egito, recorda a Aliança de Deus com seu povo, caminhar com os Profetas de ontem e de hoje, encontrar-se com o Nazareno, nos encantarmos com o seu projeto de Reino, caminharmos com a Igreja – Povo de Deus, ao longo da história até estes dias: O Concílio Vaticano II e sua recepção na América Latina, a Teologia da Libertação, a ação pastoral e evangelizadora no Brasil, com seus conflitos e buscas de acerto da caminhada plural, diversas e iluminada pela ação do Espírito Santo que continua nos mobilizando, iluminando e guiando nossos passos.

1.    NOSSA HISTÓRIA, NOSSO CHÃO
Somos filhos de trabalhadores, a nossa classe é a classe popular. Nós temos
sonhos e também muitos amores. Também queremos trabalhar, participar.
É a juventude do Meio Popular!

Nosso hino nos indica, o chão onde nascemos vai determinar nossas opções na construção de um mundo novo: numa sociedade marcada por tantas desigualdades, o olhar que lançamos sob a realidade determina o jeito de caminhar da gente. O chão que a gente pisa determina o olhar que temos da vida.
Morros e periferias do Recife, lugar dos pobres, sonhos e rezas de um povo que tem na fé um modo de encarar as dificuldades e os problemas da vida.
O ano de 1978, tempo de luta contra a ditadura militar que tinha calada muita gente, havia sufocado o projeto popular de um Brasil pensado pelos movimentos sociais do campo e da cidade. Uma voz profética não cala: Hélder Pessoas Câmara, o DOM é o nosso acalanto em tempos cinzentos. No seu entorno se gestará a PJMP, junto com outras grandes intuições – as CEBs com o Movimento Fraterno ENCONTRO DE IRMÃOS, o ITER instituto de Teologia do Recife, a Organização Pastoral da Terra, do Índio, dos Negros, a Comissão de Direitos Humanos. Nascemos dentro de um contexto amplo para ajudar a organização do povo na construção de um mundo justo, fraterno e solidário.

2.    A VOZ QUE VEM DA PERIFERIA – LUGAR TEOLÓGICO
Eu acredito que o mundo será melhor quando
o menor que padece acreditar no menor.

Todo ponto de vista é a vista a partir de um ponto. O nosso lugar teológico é a periferia. Desse chão que pisamos vai nos colocar diante de um horizonte: assumirmos quem somos, de onde viemos, com quem lutamos, marca a linguagem que buscamos implementar no nosso discurso.
A teologia da libertação, nascida no continente Latino Americano, a partir da vida, do sofrimento e da luta por superar as chagas que nos fazem 3º mundo, como um olhar a partir dos movimentos de libertação será o eixo que nos colocará numa perspectiva de fidelidade ao movimento de Jesus hoje, aqui e agora.

3.    SEMENTE NO NOVO NA LUTA DO POVO
Vinho novo em Odres Novos. (Mc 2, 22)

A Igreja de Cristo em Olinda e Recife, comprometida com a vida e a luta do povo, envolvida nesta luta, adultos em sua maioria, homens e mulheres juntos, um povo de batizados: leigos e leigas, religiosos e religiosas, ministros ordenados; juntos com os jovens da periferia organizaram o Movimento dos Jovens do Meio Popular. Com uma pedra lançado no rio que a partir de um determinado ponto produz vários círculos se espalha pelo Regional Nordeste II e pelo Brasil afora. O papel das lideranças juvenis em coordenação, o planejar essa caminhada, e a presença de equipes de assessoria – homens e mulheres encantados e comprometidos nesse projeto vai fazer a PJMP torna-se referência da organização pastoral dos jovens em nosso país.
Dom Sinésio Bhon, a partir de seu olhar de pastor, vai afirmar: “A PJMP é a experiência da Igreja, do rosto popular jovem. É a reconstrução do rosto de Cristo entre os jovens mais sofridos. A PJMP é solidária na dor, firme na esperança e alegre em suas pequenas, mas progressivas conquistas.”
Ser semente do novo na luta do povo. Eis nossa missão. Á luz das intuições da Conferência Latino Americana de Medelín que fez sua recepção do Concílio Vaticano II para o nosso continente. Ajudarmos na construção da CIVILIZAÇÃO DO AMOR. As intuições que se desenvolverão, não sem embates e conflitos, vão apurar o ouro no fogo, vão dar consistência aos nossos quadros. Fará muitos que estiveram e estão ao longo dos nossos 38 anos de história não perdemos o entusiasmo, mas consolidam os passos que continuamos dando.

4.    ARDE O FOGO NO MEIO POPULAR
Nossa força quem nos dá é Jesus Cristo, que nos empurra e ilumina o caminho,
pois Ele é o nosso companheiro, que pelos pobres sempre tem muito carinho.
É a juventude do Meio Popular!

A mística que anima a caminhada dos jovens do meio popular tem raiz em Jesus de Nazaré. O movimento Jesuano de vida nova, de estar do lado dos sem vez e sem voz é um caminhar permanente e que vai sendo atualizado a medida que nos desafia a viver na luta com paixão e entusiasmo, festejando e celebrando esse caminhar. Uma expressão que ficou marcada é a PJMP é espaço de muita Reza, Muita Luta e Muita Festa.
As orações de nossos congressos são fonte inspiradora para continuamos firmes e perseverantes, esperançosos e lúcidos, sonhadores e realizados de novos céus e nova terra.
A espiritualidade Cristã Libertadora é a fonte de nosso caminhar: o ecumenismo, o diálogo inter-religioso, as questões indígenas, afro brasileira, a questão da terra para produzir e para morar, a ecologia, a questão de gênero, a afetividade e sexualidade, a participação nos movimentos de luta social no bairro, na escola-universidade, no sindicato, no partido político, na vida e a nossa práxis deve refletir e dar passos para seguirmos com Fundamentos do Caminho, Bandeiras de Luta e Artes da Gente.
Que sejamos ontem, hoje e amanhã VIDAS PELO REINO.




*Pe. Antônio Gomes de Medeiros Filho, SDB; Vigário na Paróquia São João Bosco da Arquidiocese de Olinda e Recife, Presidente da Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Juventude da AOR, Presidente da Comissão de Juventude do Regional Nordeste 2 e Comissão Nacional de Assessores da PJMP
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segunda-feira, 4 de abril de 2016

O aspecto de Fé e Vida no Meio Popular



Por Enildo Gouveia*

Para compreender o jeito de ser Igreja a partir da experiência da Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP, algumas considerações são de fundamental importância. É necessário que grupos, militantes, simpatizantes entendam estas questões para não serem surpreendidos com diversos questionamentos que nos chegam tanto de dentro da própria Igreja, como de quem está de fora. 

Em primeiro lugar não dá pra conceber grupos ou militantes da PJMP que fiquem “presos” ou limitados às atividades paroquiais de organização de celebrações, crisma, catequese etc. Da mesma forma, estes não podem abdicar destes espaços e preocupar-se apenas com as lutas sociais e culturais. Se de uma forma corre-se o risco de perder a amplitude do debate sobre a problemática social, doutra forma, os pilares de sua fé podem ser abalados, além de afastar-se de um espaço importante de articulação entre fé e vida. 

A nossa mística consiste justamente nisto: articular a indignação sociopolítica a uma vivência profunda da fé em Jesus expressa na liturgia da palavra e nos ritos católicos que no caso brasileiro, incorporou vários elementos da cultura popular que os tornaram ainda mais ricos e significativos. De fato, para a PJMP ser ou não católico ou até mesmo cristão não é o “x” da questão. Valorizamos muito mais as bandeiras de lutas que determinada pessoa ou grupo defende, suas ações. Embora nos assumamos como cristãos, acreditamos num ecumenismo profundo que ultrapassa a perspectiva unicamente cristã, daí nossa proximidade com várias outras experiências, principalmente as indígenas e afro-brasileiras, experiências espirituais estas, originárias e válidas, assim como a nossa.  

Somos partidários de um cristianismo engajado e fundamentado no respeito e no reconhecimento de que o outro, apesar de diferente e por vezes “esquisito”, tem algo de bom a nos dizer. É no que há em comum, no que há de bom, que estabelecemos nosso leque de alianças. Já as diferenças não cabem a nós julgarmos. 

Os evangelhos nos mostram um Jesus muito próximo do povo. Suas palavras duras são em direção aos defensores da lei, aos ricos, aos poderosos. Jesus não julga o povo, mas os conforta. Alia-se a esta parcela da população indistintamente, e é pra esta a quem ele primeiro vem anunciar a ressurreição. 

Sobre a experiência numa das regiões mais pobres do Recife, Frei Aloísio Fragoso (franciscano) falou:   
“Eles são os menos amados, excluídos, rejeitados pela sociedade. Mas eu jamais escutei uma blasfêmia deles contra Deus. É um mistério a fé deste povo. Encontrei neles santidade que nunca vai chegar aos altares, mas ficará eternizada na memória do povo e no coração de Deus”
Dessa forma, se ousamos ser seguidores de Jesus, não podemos fugir deste compromisso: aproximar-se do povo sem exigir nada em troca, nem mesmo que siga a nossa profissão de fé, nosso jeito de rezar. 


*Enildo Gouveia é Assessor Regional da Pastoral de Juventude do Meio Popular,  Doutorando em Geografia e Professor no Instituto Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco. 
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