quarta-feira, 10 de março de 2010

Aquecimento Global. De quem é a Culpa?


Nestes últimos anos, mas principalmente no início deste milênio, os cientistas estão chamando a atenção e alertando as pessoas sobre a rápida e catastrófica mudança climática. Os meios de comunicação veiculam com mais ênfase em seus noticiários e documentários o tema sobre o Aquecimento Global e suas conseqüências nas mais diversas áreas do planeta.

Regiões que eram frias e geladas estão sendo castigadas por ondas de calor, outras que eram naturalmente mais quentes sofrem um superaquecimento, ocasionando a morte de pessoas idosas e de crianças. Tempestades violentas atingem o Brasil, principalmente as regiões Sul e Sudeste. Lembro do Katrina que atingiu Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, classificado quase como um furacão de categoria um, numa escala que vai de um a cinco. Fortes ciclones, tornados, furacões e tufões estão ficando cada vez mais freqüentes, causando mortes e destruições em várias regiões do planeta. O crescente número de desertos que vão surgindo devido ao aumento da temperatura provoca a morte de espécies de animais e vegetais, desequilibrando ecossistemas.

O desmatamento vem como aliado neste processo. A tendência é aumentar cada vez mais as regiões desérticas em nosso país e no planeta. O derretimento das calotas polares compromete a segurança das cidades litorâneas devido à subida e o avanço dos oceanos. Podemos imaginar que daqui a poucos anos Veneza, na Itália, vai perder a sua fama e beleza pois muitas cidades à beira-mar serão como Veneza; em vez de ruas, canais; em vez de veículos, gôndolas. Correm até o risco de virarem uma Atlântida, a cidade submersa e perdida.

Causas

A pergunta que se faz hoje é quem ou o que pode estar provocando tudo isso. Num modo geral, os cientistas e pesquisadores do clima em escala mundial afirmam que este aquecimento global está ocorrendo em função do aumento de poluentes, principalmente de gases derivados da queima de combustíveis fósseis na atmosfera. Gases como o ozônio, gás carbônico e principalmente o monóxido de carbono, formam uma camada de poluentes, de difícil dispersão, causando o famoso efeito estufa. Somando a tudo isto, temos os desmatamentos e as queimadas de florestas e matas que colaboram significativamente para este processo. Ele ocorre quando os raios do Sol atingem o solo e irradiam calor na atmosfera. Como esta camada de poluentes dificulta a dispersão do calor, o resultado é o aumento da temperatura global.

O Protocolo de Kyoto, tratado internacional discutido no Japão em 1997, é a maior comprovação desse consenso. Por meio desse documento, ratificado em 1999 pelos países signatários, menos os Estados Unidos e Austrália, os governantes, junto dos pesquisadores, mostraram ter ciência do problema e da parcela de culpa humana. Tanto que se comprometeram a reduzir em 5,2% a emissão de gases poluentes até 2012, segundo parâmetros de 1990.

As Nações Unidas têm um órgão chamado Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Ele prevê um aumento de três graus na temperatura global nos próximos 100 anos. Mas pode chegar a seis graus se houver uma emissão indiscriminada de poluentes. Mesmo assim, um pequeno grupo de cientistas ainda nega a importância do ser humano nesse processo. As causas seriam contingências do universo, entre elas as oscilações típicas na radiação solar. Essa visão é questionada por organismos de estudo internacionais vinculados ao IPCC. Devemos lembrar aqui que o planeta, ao longo dos seus milhões de anos, passou por várias transformações, entre elas as climáticas. Enfoco as eras de glaciações que ocorreram no planeta, os congelamentos e os degelos glaciais. É um processo natural estarmos caminhando para um novo período destes; porém, está sendo acelerado pela ação do ser humano.

Olhando para esta realidade toda, podemos nos perguntar de quem é a culpa de tudo isto? Com certeza acharemos muitos culpados para esta realidade de destruição da nossa casa, o planeta Terra. Podemos citar países, governos, sistemas e até a religião como culpados por esta realidade de proporções catastróficas.

Consumo desenfreado

Quando olhamos para as grandes empresas e outros segmentos que poluem o meio ambiente, seja no Brasil ou no mundo, ficamos extremamente indignados, fazemos manifestações, abaixo-assinados. Ou ficamos em casa, indiferentes, dizendo: “Que horror isto. Onde estão as autoridades políticas e ambientais?” E eu, não estou por acaso consumindo o que elas produzem? Exijo como consumidor que eles se enquadrem nas normas ambientais? Não estamos percebendo que, influenciados pelos meios, os grandes vilões passam despercebidos. São os sistemas econômicos de consumo desenfreado e os financeiros que, camuflados de “bens de consumo”, influenciam direta e indiretamente sobre o aquecimento global? Nós, bilhões de habitantes, não calculamos o que consumimos e descartamos durante um ano como: aparelhos de celular e eletroeletrônicos, carros, móveis; embalagens, os cigarros e chicletes jogados no chão, pilhas, garrafas pet’s, lanches que têm quase mais embrulhos do que a própria comida, e assim vai...

Para que se renove este nosso estoque de consumo, induzido pelos meios econômicos e de produção de “coisas novas e práticas”, vem a dúvida: para onde vai o que nós bilhões de habitantes descartamos? Tudo realmente consegue ser reciclado ou reaproveitado para que não precisemos retirar só das fontes de matérias-primas? Diante desta demanda crescente de produtos, os meios econômicos correm para nos atender sem responsabilidade e controle algum. Nós é que devemos parar de “poluir” com o que consumimos sem responsabilidade, mediante um sistema econômico de consumo desenfreado e desigual que só visa ao lucro. O consumismo também provoca indiretamente o aquecimento global.

E a Bíblia?

Em meus estudos e reflexões acadêmicas, tenho escutado em vários segmentos da universidade e da sociedade, que uma boa parte desta culpa pela destruição, seja da ecológica ou pelo aquecimento global, já vem da tradição judaico-cristã. Baseiam-se somente numa reflexão fundamentalista e parcial do Livro do Gênesis, no capítulo 1 nos versículos 26 e 28, acabam não tendo uma visão teológica correta e coerente, acabam por justificar nesta tradição, quase toda a culpa. No Livro do Gênesis, capítulo 1 versículo 26 se lê: “...Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra...” no versículo 28: “...enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que rastejam sobre a terra.” Numa leitura ao pé da letra e fora de contexto, corremos o risco de interpretar estas passagens como um forte argumento “divino” e de “fé” para usar indiscriminadamente e como quisermos, os recursos tão diversos e preciosos do planeta. Podemos até nos perguntar se estas passagens não estavam enrustidas em projetos e metas de vários sistemas políticos, ideológicos e econômicos ao longo da nossa história, às vezes, até em nome de “Deus”. Mas qual? O seu próprio.

Imaginemos uma empresa de grande porte, uma universidade, um hospital, uma fábrica de aviões, um laboratório farmacêutico, uma usina nuclear etc., onde os seus profissionais de ponta (reinar) não soubessem administrar bem os seus trabalhos e em equipe qual seria o resultado? Se eles também não soubessem controlar (submeter) os elementos pelos quais trabalham para os melhores fins, o que aconteceria? E por último, se não tivessem o domínio (dominar) do material e o conhecimento chegariam a algum lugar? Deus também nos capacitou como grandes administradores do planeta, profissionais competentes, que a partir da criação devemos evoluir na qualidade global de vida. Agora, como eu vou aplicar está leitura do Gênesis sem tirar pedaços para interesses próprios, religiosos ou de sistemas diversos, é que fará toda a diferença.

Este administrador primeiro, conforme o Gênesis, foi chamado a “cultivar e a guardar” Gn 2,15 e a dar “nomes aos seres vivos” Gn 2,19. O bom administrador sabe cultivar valores e sabe dar nome àquilo que é de maior importância na sua vida: os familiares, as pessoas próximas, os amigos, os seres vivos, as descobertas nos diversos campos, os planetas e as estrelas no espaço, os lugares etc. O administrador de verdade descobriu na qualificação do amar suas aptidões para “cultivar e guardar” o que Deus lhe deu de melhor, as pessoas e o mundo. Como competente nisto, ele não irá criar sistemas econômicos e financeiros injustos, que destroem as pessoas pelo egoísmo, individualismo e indiferença, tendo como resultado final a destruição do planeta e o aquecimento global.

Precisa-se urgentemente deste administrador qualificado no amor para a vida diária. As bilhões de vagas já estão abertas...

Sésio Júnior Bitello,
Estudante de Teologia da PUCRS.
Endereço eletrônico: junior.com@universia.com.br
Fonte: Jornal Mundo Jovem
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