Por Enildo Gouveia*
Para compreender o jeito de ser Igreja a partir da experiência da Pastoral da
Juventude do Meio Popular – PJMP, algumas considerações são de fundamental
importância. É necessário que grupos, militantes, simpatizantes entendam estas
questões para não serem surpreendidos com diversos questionamentos que nos
chegam tanto de dentro da própria Igreja, como de quem está de fora.
Em
primeiro lugar não dá pra conceber grupos ou militantes da PJMP que fiquem
“presos” ou limitados às atividades paroquiais de organização de celebrações,
crisma, catequese etc. Da mesma forma, estes não podem abdicar destes espaços e
preocupar-se apenas com as lutas sociais e culturais. Se de uma forma corre-se
o risco de perder a amplitude do debate sobre a problemática social, doutra
forma, os pilares de sua fé podem ser abalados, além de afastar-se de um espaço
importante de articulação entre fé e vida.
A
nossa mística consiste justamente nisto: articular a indignação sociopolítica a
uma vivência profunda da fé em Jesus expressa na liturgia da palavra e nos
ritos católicos que no caso brasileiro, incorporou vários elementos da cultura
popular que os tornaram ainda mais ricos e significativos. De fato, para a PJMP
ser ou não católico ou até mesmo cristão não é o “x” da questão. Valorizamos
muito mais as bandeiras de lutas que determinada pessoa ou grupo defende, suas
ações. Embora nos assumamos como cristãos, acreditamos num ecumenismo profundo
que ultrapassa a perspectiva unicamente cristã, daí nossa proximidade com várias
outras experiências, principalmente as indígenas e afro-brasileiras,
experiências espirituais estas, originárias e válidas, assim como a
nossa.
Somos
partidários de um cristianismo engajado e fundamentado no respeito e no
reconhecimento de que o outro, apesar de diferente e por vezes “esquisito”, tem
algo de bom a nos dizer. É no que há em comum, no que há de bom, que
estabelecemos nosso leque de alianças. Já as diferenças não cabem a nós
julgarmos.
Os
evangelhos nos mostram um Jesus muito próximo do povo. Suas palavras duras são
em direção aos defensores da lei, aos ricos, aos poderosos. Jesus não julga o
povo, mas os conforta. Alia-se a esta parcela da população indistintamente, e é
pra esta a quem ele primeiro vem anunciar a ressurreição.
Sobre
a experiência numa das regiões mais pobres do Recife, Frei Aloísio Fragoso
(franciscano) falou:
“Eles são os menos amados, excluídos, rejeitados pela sociedade. Mas eu jamais escutei uma blasfêmia deles contra Deus. É um mistério a fé deste povo. Encontrei neles santidade que nunca vai chegar aos altares, mas ficará eternizada na memória do povo e no coração de Deus”.Dessa forma, se ousamos ser seguidores de Jesus, não podemos fugir deste compromisso: aproximar-se do povo sem exigir nada em troca, nem mesmo que siga a nossa profissão de fé, nosso jeito de rezar.
*Enildo
Gouveia é Assessor Regional da Pastoral de Juventude do Meio Popular, Doutorando em Geografia e Professor no Instituto Federal de Educação Tecnológica de
Pernambuco.
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